domingo, 9 de maio de 2010

OS HOMENS QUE EU TIVE

“Liberação feminina por influência do pseudo vanguardismo de certos cursos universitários, das pregações stalinistas de nossas escolas e “clubes de cinema”, e também da convivência, do universo “boca do lixo” de sete ou oito anos atrás. Em verdade, uma dessas obras pseudo-amplas, que mais contribuem para desencadear as iras das censuras contra o que eventualmente se tentasse de sério, observado e fundamentado no gênero. O papel foi escrito para Leila Diniz, mas com a morte desta confiada à interpretação de Darlene Glória, que, com seu tipo mais pesado e passional, deixou ainda mais problemática a personagem. E essa personagem “ideal” é uma mulher casada que se comporta como homem, que faz o marido aceitar o amante dela em casa, já que este “ficará sempre em segundo plano”. Mas que não satisfeita com isso, leva a sua liberação a uma “franqueza” impossível mesmo para o homem da sociedade vigente. E, o pior, a intriga parece uma contrafação muito “campus”, muito badernas da época, de “L’Harem”, o filme que Marco Ferreri realizou na Itália em 67, com Carrol Baker como uma mulher compulsivamente desafiadora e egocêntrica que compele cinco homens (Renato Salvatori, Gastone Moschin, Thomas Milian, etc.) a aceitarem um “ménage” simultâneo. Mas eles não suportam as pressões e os antagonismos da experiência e o resultado é trágico. Claro, no filme de Ferreri há toda outra densidade de propósitos, há exatidão de observação humana, coerência dramática, possibilidade de discussão e exame em outro nível.”


Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 10/08/80.


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