domingo, 25 de dezembro de 2011

RESSONÂNCIAS DE UM ÓTIMO CICLO

"Já comentamos, não tão extensamente como desejaríamos e o evento merecia, cinco dos oito filmes da “Mostra de Cinema Iugoslavo Inédito”. Ficaram faltando “Viver Para Ver”, “A Vida Amorosa de Budimir Traikovic” e “A Felicidade numa Corda”. As projeções do “Museu de Arte Moderna” nestes primeiros dois meses do ano estarão suspensas para reformas na sala. Mas o êxito e o interesse do ciclo foi tanto que eles, após correrem outras capitais, poderão voltar antes, no Masp, Cinesesc e até mesmo no Cine Clube Bixiga, senão depois no mesmo MIS. Assim é de bom alvitre ainda insistir nas muitas qualidades que tais obras nos revelaram.
Em primeiro lugar, com sua variedade de temas, épocas e locais, uma mais precisa idéia dos padrões de vida do povo e dos usos e costumes nessa república socialista, mas oficialmente anti-stalinista. “A Coroa de Pedra”, que através da vida de uma camponesa analfabeta, antes, ao tempo, durante e depois da revolução, é dos filmes mais efetivos nesse aspecto. E se observação realmente existe em teor suficiente e fizesse efeito, muitas ilusões e muitos preconceitos em torno do que pode ser a existência humana, a organização, a impossibilidade ou a morosidade das novas disposições das propaladas boas intenções a entrar em vigência nos regimes semelhantes, iriam em parte se desfazer, em parte passar a um plano mais condizente com a realidade.
Não é o regime de ocupação ou capitalista, bem como não é automaticamente a Revolução, o que influi na vida, na coroa de espinhos que a inerme e cândida Petra carrega por toda a sua apagada vida, desde a juventude até a velhice. É uma injunção, um condicionamento, um dado de temperamento, talvez, acima de organizações estatais, repressões, costumes arcaicos ou leis inovadoras. O barco leva muito tempo a chegar a seu destino, bem como a esponja das boas disposições não consegue apagar o que já quase se torna segunda natureza. E que grande interpretação, na protagonista, a de Mirjana Karanovic. Se prêmio de atriz tivesse havido no recente festival do MASP, a contemplada só deveria ser ela, com sua atuação clássica, profundamente humana e patética.

E falando em interpretações femininas, como é também forte e convincente a de Milena Dravic, a esposa e mãe possessiva e reclamona de “Budimir Traikovic” (Ljubavni Zivot Budimira Traikovic). O rapazinho, que vivia mudando de cidade, não parando nunca em escola alguma, não tendo jamais uma vida amorosa regularizada, tudo devido às permanentes mudanças de cidade a que a família estava submetida pela profissão (construtor de pontes) do pai (Ljubisa Samardzic) e do avô (Mica Tomic). Mas, quem mais se rebelava exteriormente era a mãe. E neste papel sério, mas que o colorido e a força de sua intérprete (Milena, a mesma “João Batista” de saias, que ao final tinha a sua cabeça simbolicamente cortada em “Os Mistérios do Organismo”, o filme de Makavejev exibido no festival do MASP) davam um fogo, e uma fúria que fazia pensar em Bette Davis, em Isabel Jewell e nas maravilhosas Bonita Granville e Margaret Hamilton da primeira versão de “Infâmia”. Um calor, uma convicção e, sem depreciar, até uma humana comicidade.

No setor masculino, interpretações também que mostram que o cinema de lá tem nível de que se orgulhar, foram as de Predag Bolpacig (o Budimir em causa), a dos dois heroizinhos de “Educação Especial” (Stimac e Aleksander Bercek, este o internado sem culpa, o qual, pela primeira vez em toda a nossa vida de crítica, nos fez ficar contrários a um final infeliz, embora esclarecedor e combativo, tal a simpatia despertada por personagem e intérprete). Valioso também Sebe Serbdzija, o protagonista do idealista e derrotado “Jornalista”, a de Hadi Shehu, um misto de Oliver Reed com um melhorado Ryan O’Neal e que fazia o suposto a culpado de “Rastros Brancos”.

E embora não tenhamos os nomes, louvores igualmente para o heroizinho de “A Felicidade numa Corda” (Sreca na Vrvici) e – porque não? – para o co-astro canino, aquele irresistível Terra Nova negro, cuja doação pelo diretor de uma equipe de TV ao menino, que havia logo “caído” pelo animal durante uma eventual filmagem de rua. E a simpatia foi mútua, mas o menino e sua mãe moravam numa zona de prédios de apartamentos, na qual não era permitido ter animais. Que bonita lição de vida, que simples mas efetivo apanhado social nessa história ingênua – será? – realizada aliás por uma mulher – Jane Kavcic.

Ainda a salientar a encantadora adolescente que faz o papel da última vizinha de prédio de apartamentos, e lógico que também a namoradinha, pela qual é o antes submisso Budimir e não sua briguenta, moralista e possessiva mãe, que rompe com a obrigação de mudanças da família e não segue de avião para o Iraque, iniciando já sua fase de “homem autosuficiente e independente”.

E disso cumpre ainda acrescentar a força patético-cômica de Cvijeta Mesic nas duas encarnações de histérica que faz com a psicóloga moderno-bitolada de “Educação Especial” e como a tia maneirosa que vem da Suíça em “Budimir”. Em ambos os filmes suas personagens tem os problemas resolvidos por dois homens dito chauvinistas: o professor compreensivo encarnado por Bekim Fehmiu em “Educação Especial”, e por Bata Zivojinovic, o vivido e complacente motorista de ônibus que a fica conhecendo e analisando em “Budimir Traikovic”. Aliás dois atores que aqui já conhecemos de fitas iugoslavas anteriores (Bata) e também de algumas feitas nos EUA e Europa (Bekim).

Sobre “Viver para Ver” (Zivi Billi Pa Vidjeli), de Pulo Puhlovski & Gamulin, salvo os habituais valores de realização, décor, imagem etc. não haveria tanto a anotar, mas ainda assim a fita, girando em torno do problema habitacional e da falência dos planos arquiteturais de conjuntos ideais, em contraste com a burocrática realidade ou a escassez de possibilidades (financeiras e também humanas) igualmente não passa em branco."


Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 03/01/82.

domingo, 7 de agosto de 2011

O AMIGO AMERICANO ("Der Amerikanische Freund")


"Uma irretorquível obra-prima do atual cinema alemão, este “O Amigo Americano” (Der Amerikanische Freund) que lamentavelmente ficará só até hoje no Cine Liberty e até quarta no Arouche-A, mas de maneira alguma poderá ser perdido pelo espectador que sabe selecionar o que vai ver, sob pena de ficar desconhecendo um dos mais pessoais e intrigantes tipos de filmes que se fazem hoje em dia.
Enigmático, ambivalente, difícil mesmo de acompanhar, Der Amerikanische Freund poderá ser, e realmente é, tudo isso. Mas é, certamente, pela forma original de emoção que desperta e pelo enriquecimento estético-humano que carreia para quem pode apreciá-lo, um espetáculo incomum, diante do qual a mera ação explicada das exigências convencionais torna-se de todo irrelevante. E nisso ele lembra “À Beira do Abismo”, o clássico “thriller” que Bogart estrelou em 46 na Warner, produzido e dirigido por Hawks, baseado em novela de Raymond Chandler.
“À Beira do Abismo”, ou seu clima, foi um dos acertos do período que mais a “nostalgia” cultuou ou tentou emular (veja-se, por exemplo, o Chinatown de Polanski). Mas nunca essa emulação foi tão bem-sucedida como no caso presente, muito embora este filme de Wenders felizmente (e dizemos isto não por depreciação) nada tenha do cinema americano daquela época e seja um produto típico e absoluto do cinema europeu (e germânico) atual, com seu mergulhar no mundo dos mistérios do desencanto existencial, feito de cidades deterioradas, de falta de espaço para a sobrevivência mínima, de total perda de valores.
Os americanos sempre puderam reconstituir a Europa. Marlene e Garbo estavam lá. Louise Brooks e Ella Raines ali nasceram mas pareciam vindas do outro lado do Atlântico. Lá atuavam e influenciavam, soberanos, Fritz Lang, Siodmak e outros tantos. O europeu, entretanto, não consegue copiar a América, esta é para ele um indômito quebra-cabeças. E, diante do maravilhoso europeísmo deste filme, podemos dizer (sempre sem depreciação): “Ainda bem!”.
Pois “O Amigo Americano” não precisava que Dennis Hopper impossivelmente tentasse reviver Shane, Gary Cooper, Joel McCrea e outros paladinos errantes e solitários da mitologia do western. E ao invés de americano amigo poderia ser búlgaro, iugoslavo ou polonês, que daria na mesma, embora para a sede de outras terras e nova gente do velho mundo, não pareça.
O essencial é que aqui estamos diante do encontro, da quase troca de destinos entre dois homens, do ambíguo ou do fatal surgimento da amizade entre ambos. Uma espécie de inverso da lenda criada por Poe em “William Wilson” ou da perene atração e repulsão do homem por seu “duplo”, conforme lembra o crítico inglês Tom Milne. O homem errante e disponível (Hopper) que sente admiração e/ou inveja e ao mesmo tempo tenta corromper ou destruir o outro, pequeno burguês comum e assentado, mas ambos já marcados pela transmutação de identidades e pela garra da morte (e o episódio da troca de presentes quando o estrangeiro dá ao alemão o cinescópio com figuras de mulheres desnudas é significativo).
Der Amerikanische Freund tem cinco elementos de interesse e validade absolutos. A modernidade e o estilo narrativos da direção de Wim Wenders é um. Aqui, já foram apresentados em especiais pelo Instituto Goethe quatro filmes seus (“O Medo do Goleiro Ante o Penalty”, “Alice nas Cidades”, “O Movimento Falso” e “No Decorrer do Tempo”) mas bastaria agora este Der Amerikanische para colocá-lo em situação equivalente à de Fassbinder e Herzog.
Igual exponencialidade encontramos na procura de ambientes e na cenografia de Tony e Heidi Ludi e na audácia, na secura, na precisão e nas pesquisas de plasticidade, aplicação de cor e clima da fotografia de Robby Miller. O mesmo vale para o comentário musical de Jurgen Knieper.

E coroando tudo, o protagonista, que não é o Denis Hopper corroído e envelhecido pelas drogas logo após seu êxito em “Sem Destino”, mas sim o extraordinário Bruno Ganz, o herói de “O Pato Selvagem”, o compulsivo sedutor da “Marquesa de O”, a vítima de “Nosferatu” que se transforma prazeirosa e satanicamente em vampiro, na recente versão de Herzog. Sem ser bem o tipo cavalheiro como Michel Piccoli (parece mais um carpinteiro, ou, como na história, um moldureiro) Ganz sugere entretanto mais elegância que o próprio Piccoli.
Sua afirmação aqui equivale à de Bela Lugosi em “Drácula”; a depois descurada revelação de Oliver Reed em “Mulheres Apaixonadas”, lembrando por outra – numa história também de inocente colocado entre a guerra de grupos de gangsters – a patética estréia de Wendell Corey, em 47, com I Walk Alone e Desert Fury.
Quando em cena - e ele está quase em todo o filme – para usar uma definição da crítica anglo-americana, é impossível que Ganz não monopolize – mesmerize – a atenção do espectador e, com o devido respeito e transpondo o fenômeno em termos masculinos, não nos leve a aquilatar o que foram as duas primeiras aparições de Greta Garbo, em 1926, na Metro, com The Torrent e “Terra de Todos”."

*Publicado originalmente em “O Estado de São Paulo” de 26 de outubro de 1980

domingo, 24 de julho de 2011

AS FUGITIVAS INSACIÁVEIS


“O técnico de equipe Antônio Pólo Galante ao passar a produtor, embora tenha tido em seu ativo boa participação em fitas de empenho como “Lance Maior”, “A Guerra dos Pelados”, “A Mulher de Todos”, “As Armas”, “As Gatinhas”, “As Deusas”, “O Último Êxtase”, recentemente ao enveredar por uma política mais ativa de produção mesmo trabalhando nas condições mais habituais do cinema paulista (nenhum apoio mas até perseguição da crítica, nenhuma ajuda na televisão, nenhum “cats paw” do PC ou dos “intelectuais” de escolinhas, clubinhos e outras igrejinhas, sem o apoio interessado e descarado de candidatos a cineastas “geniais”) mesmo não apregoando gato por lebre, mesmo sem desculpas nem mistificações, e sim, declarando abertamente suas intenções puramente comerciais, mesmo assim e com tudo isso tem feito o que ninguém mais tem conseguido: espontaneamente colocado alguns valores de realização e, sobretudo, de elenco em fitas que ele planeja, realiza e exibe com a maior presteza e eficiência possível. Só no ano passado realizou e apresentou cerca de cinco – a metade do que hoje está produzindo qualquer um dos ex-sete grandes estúdios de Hollywood. Pois chega-nos agora mais esta aventura, sem veleidades àquela mistificação, aquela mentira que os astutos rotulam de “compromisso com a nossa realidade”, chega esta obra diretamente violenta, com claros apelos ao sexo, à linearidade. Mas, mais requintada e ousada em certos pontos do que a quase totalidade do “cinema sério” que o “engagement” endeusa, pois vem com a coragem, por exemplo, de colocar no papel de um cáften e alcagüete, um tipo com o nível e a finura, mas há também a perfeita capacidade para convencer de um Pedro Stepanenko, além de dar o primeiro papel masculino a sempre proverbial grandeza cênica de Sérgio Hingst e de colocar nos papéis femininos novas presenças como a da bonita “nissei” Suely Aoki ou uma espécie de Mercedes McCambridge Rua do Triunfo como Zélia Martins. Fotografia, direção e ação tem a garanti-las – lado adventício da própria proposição à parte – a prática de Oswaldo de Oliveira.”

terça-feira, 19 de julho de 2011

EXCITAÇÃO


"Longe da bitola do estrelismo narcísico-comercial de David Cardoso (“A Ilha do Desejo”, “Amadas e Violentadas”, “Possuídas Pelo Pecado”, obras que no entanto facultaram sua revelação e os indícios de uma tendência plástico-formal para situações efeitos sado-eróticos-masoquistas), com “Excitação” o jovem diretor Jean Garrett surpreende até mesmo àqueles destituídos de preconceitos “culturais” que conseguiram aquilatar de suas potencialidades em melhores circunstâncias. Pois elas se impõem neste novo filme, o mais profícuo e caprichado que M. Augusto Cervantes produziu até hoje. Não que inexistam assimetrias, contradições e fortes lapsos de entrecho, com situações e personagens desnecessariamente tomados de empréstimo a muitas obras anteriores (“Suspeita”, “À Meia luz”, “A Teia de Renda Negra”, e até “A Sétima Vitima”, de Val Lewton). Mas é quase a primeira vez que algo saído da Rua do Triunfo revela um gosto e uma capacidade de manipulação, um germe de linguagem para realizações de diverso teor: unidade, plasticidade, imaginação cinemática. Outro tento é a belíssima fotografia colorida de Carlos Reichenbach, toda em tons neutros e esmaecidos (como se fosse concebida para a Kim Novak de “Uma Vez por Semana” ou a Dominique Sanda de “Une Femme Douce”), bem dosada, atmosférica – uma das melhores que nosso cinema apresentou em muito tempo. Sugestiva também a escolha de locais “marinhos” e o emprego das roupas (ponto sempre ridículo nas fitas nacionais do atual e falso “boom” comercial). Inesperadamente efetivo o “modernoso” comentário musical de Beto Strada. E só dignas de elogios as atuações de Kate Hansen com sua entrega e Betty Saddy com seu “charme” carioca, ainda que seja de lamentar as poucas oportunidades a Liana Duval e Abrahão Farc. Não há “engagement”, falta certamente o grande entrecho, mas é flagrante uma capacidade de vir à tona para as exigências visuais expressivas e atmosféricas do cinema. E isso é muito."

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 29/05/77.

domingo, 10 de julho de 2011

O ESPÍRITO DA COLMÉIA ("El Espiritu de la Colmena")

"Segundo Saura o filme que o levou a utilizar a menina Ana Torrent em “Cria Cuervos”, senão mesmo que até o levou a imaginar e realizar essa sua magistral obra que amanhã, além do Olido e Bristol, passará também para a tela do Del Rey, tal o êxito (inesperado para os exibidores) felizmente alcançado nesta nossa nem sempre errada cidade. Como Saura depois em “Cria...”, também “El Espiritu de la Colmena” teve problemas e foi embargado algum tempo pela censura franquista. Mas o importantíssimo é que – sem cinismos e desaforos e sem se aproveitar do próprio poder oficial para fazer “festividade” – ambas as películas foram realizadas em pleno regime de Franco. E, ainda que através da alegoria, do fantástico realismo passível no cotidiano e no trivial, dão-nos um excepcional retrato da verdade e do sofrimento, da alma e dos anseios espanhóis de todo esse longo período de 40 anos de ditadura sofrida por seu povo. E ainda por cima, segundo o atestariam, senão os prêmios obtidos nos festivais de San Sebastian, Chicago, Londres e Nova York e os elogios de toda a imprensa do mundo civilizado, com certeza os testemunhos pessoais de nossos colegas Carlos Motta e Ewald Filho que os viram há três e dois anos em Cannes e Buenos Aires. A ação começa numa tarde de domingo, no ano de 1940 (época em que o impacto e as feridas da Guerra Civil ainda se faziam sentir) quando a uma pequena aldeia chega um velho caminhão com dois projetores na sua ronda mensal de cinema ambulante pelo interior do país. E para uma audiência principalmente de crianças exibem “Frankenstein”, o clássico de terror feito por James Whale em 1931. Duas meninas assistem à sessão e se vêm possuídas de fascinação pela película, mas ambas de maneira diferente. Isabel faz de tudo um jogo de imaginação. Ana, porém, cujo pai cria abelhas e cuja mãe tenta reviver o passado escrevendo cartas sem destino a um amor perdido, Ana, dizíamos, num processo de descoberta básica toma a projeção como uma realidade essencial. E quando, identificando-se com o monstro, imortalizado por Boris Karloff, e divagando pelos campos, encontra um homem misterioso, um fugitivo político, todo um processo de confronto entre bem e mal, uma consciência de vida e morte vêm a tona e uma estrutura original de cine-dramaturgia de realismo mágico e expressão poética configuram um filme cuja apreciação e entendimento se tornam capitais. Obrigatório."


domingo, 5 de junho de 2011

BIÁFORA POR GUSTAVO DAHL

Na revista Filme Cultura deste mês saiu a segunda parte do perfil do Biáfora pelo cineasta Gustavo Dahl (a primeira parte pode ser lida aqui).

O Inácio escreveu uma coisa bem bonita no seu blog.

domingo, 24 de abril de 2011

O PRÍNCIPE DA CIDADE ("Prince of the city")

“O Príncipe não é príncipe, mas um policial de Nova York que é escalado com outros sete investigadores e recebe da Divisão de Tóxicos de Nova York a incumbência de chegar até os altos figurões que controlam o tráfico de narcóticos na cidade. Mas Daniel Cello (Treat Williams) o herói deste filme talvez muito longo (quase três horas), não é bem isso. Já teve, também três ou cinco pecados de corrupção em sua folha de serviço. Além do mais, para poder exercer seu trabalho, normalmente tem que fornecer drogas aos seus informantes e, também, escamotear certos fatos, manter muitas vezes a boca calada, já que o exercício da honestidade muitas vezes exige que se transgridam leis. Paradoxo? O que sempre uma pessoa observadora vê ou percebe em suas imediações, não torna apropriada a expressão. O fato é que não excluindo o seu “feminino” e amargo “O Grupo”, toda a carreira de Lumet esta marcada por essas histórias da falência, dos descaminhos ou dilemas das pessoas policiais, instituições, a própria justiça: “Doze Homens e uma Sentença”, “Mulher Daquela Espécie”, “Panorama Visto da Ponte”, “Limite de Segurança”, “Sérpico”, “O Homem do Prego”. Nós porém o preferimos quando emaranhado no ambiente pantanoso e clima hemingwayano dos preconceitos e rancores da atrasada vida no Sul do EUA. Como em “Vidas em Fuga” (graças também a Anna Magnani) e em “Brutalidade Desenfreada”, ambos, salvo engano, devidos também a Tennessee Williams.”.

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 18/04/82.

EM BUSCA DO OURO ("The gold rush")

“Uma das obras mais endeusadas de Chaplin, esta, baseada nas trágicas conseqüências (que o filme aliás alude, mesmo porque suas proposições sempre seriam outras) da corrida ao ouro ocorrida no Alaska no último terço do século passado. O assunto deu, entre outras, margem a fita da Metro dirigida em 1928 por Clarence Brown com Dolores del Rio “Ouro” (“The Trail of 98”). Aqui serviu para Charlie Chaplin levar a termo um de seus empreendimentos mais bem sucedidos e mais uma vez colocar o pobre e desamparado homenzinho em meio à hostilidade e maldade do mundo que existia até dez anos atrás, mais ou menos. Ao tempo de seu primitivo lançamento entre nós (o que se deu iniciando uma fase cinematográfica do extinto “Teatro Santana”, a 10 de setembro de 1926) a publicidade informava que Chaplin havia declarado ver “este o filme pelo qual desejo ser lembrado para todo o sempre”. A fita foi logo “reprisada” a 17 de fevereiro de 1930 (no extinto Cine Rosário) e, a 13 de abril de 31 (no antigo República) e depois, já em versão sonorizada, musicada e comentada, e portanto reduzida, visto a supressão das cartelas para legendas – pelo próprio Chaplin, novamente reexibida a 14 de julho de 43 (no Cine Ritz, depois Rivoli) e a 30 de setembro de 1957 (no Art Palácio e circuito). O refinado Henri d’Abbadie D’Arrast, que havia colaborado como consultor assistente, desentendendo-se depois com Chaplin, fez com que seu nome fosse retirado dos “créditos” nessas duas reapresentações sonoras.

No mesmo programa será também “reprisada” outra, e das mais aplaudidas também, fitas curtas do realizador, “Vida de Cachorro” (“A Dog’s Life”), de 19 de abril de 1918, com cerca de 36 minutos e interpretada pelo realizador, mais seu irmão Sidney, o diretor Reisner e Edna Purviance.”.

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 30/01/77.

VENHA TOMAR CAFÉ CONOSCO ("Venga a prendere il caffè da noi")

“Retorna esta ferina e excelente tragicomédia de Lattuada que aqui havia sido originalmente lançada nos Cines Metrópole e Astor a 3 de abril de 1972. O assunto é aquele já antes (“Ape Regina”, etc.) muito bem explorado e analisado pelo cinema italiano com toda a sua fidelidade à observação e a pintura verista de usos e costumes e fraquezas da condição humana: as várias e contraditórias vantagens e ciladas do exercício da virilidade. De novo Ugo Tognazzi é o funcionário público, é o homem normal e medíocre que um dia descobre que essa orgulhosa condição de “maschio” tanto é o caminho para fruir a vida como também pode se transformar no mais letal, no mais fatal dos encargos. Um dos mais representativos filmes de Lattuada, uma “reprise” bem-vinda, uma obra a ver ou rever.”

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 13/03/77.

A VINGANÇA DO HOMEM CHAMADO CAVALO ("The return of a man called Horse")

“Apesar do diretor ser Irwin Kershner (o mesmo de “Stakeout on Dope Street”, um filme-B de 1958 que então a crítica “jovem” ou “mais aberta” considerou muito) a recepção a esta sequência de “Um Homem Chamado Cavalo” não foi entusiástica. Menos convincente e mais condescendente para com as implausibilidades da trama, escreve Clyde Jeavons no “Monthly Film Bulletin” de novembro último. Contudo, no elenco, um forte motivo para que se assista ao filme, mesmo tendo que aturar a presença de Richard Harris: a volta de Gale Sondergaard, a militante irredutível, a grande atriz de “Anthony Adverse”, “Emile Zola”, “Sétimo Céu”, “A Carta”, a Mulher Aranha de uma aventura de Basil Rathbone como Sherlock Holmes e de outro daqueles envolventes “thrillers-B” da Universal em meados dos anos 40.”

13/03/77

REDE DE INTRIGAS ("Network")

“Uma espécie de “O Galante Mr. Deeds”, de “A Mulher faz o Homem” (“Mr. Smith goes to Washington”) ou de “Adorável Vagabundo” (“Meet John Doe”) transpostos para o nosso tempo e contra (contra?) a corrida ao dinheiro, às ambições de mando e gosto pelo poder – por estas razões em si nada além – que caracterizam principalmente o “boom” e o círculo vicioso da TV e do atual mundo das “comunicações”. De rosa, o “New Deal” de Capra-Roosevelt torna-se negro, pustulento, amarelo, marrom, tudo, menos branco, menos limpo. Resta agora saber, se como também no nacional “A Flor da Pele”, até que ponto, em arte, tudo o que existe se pode ser transformado em matéria de interesse de epopéia. A fita concorre a dez “Oscars” (filme, diretor, melhor atriz, dois atores centrais coadjuvantes masculino e feminino, etc.). Um dos atores, Peter Finch, concorre postumamente, fazendo um Gary Cooper ou James Stewart exausto e mais preocupado com o seu cargo que com a causa e esta sua derradeira interpretação é patética, conquanto não propriamente explêndida. E, assim, talvez o mais essencial do filme seja justamente o “porco capitalista” a cargo do Ned Beatty, que é o ator coadjuvante que concorre. Um inegável sinal de nossos tempos, repita-se.”

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 20/03/77.

LADY CARATÊ, EX-MULHER DRAGÃO ("Onna hissatsu ken")

“Um intermediário norte-americano foi ao Japão e lá adquiriu dos estúdios Toei toda a sua produção de filmes de ação para distribuição em caráter mais internacional. Esta que aqui nos chega via Warner, remontada, dublada em inglês com o título idem de “Lady Karate” e como sendo co-produção sino-japonesa, outra não é senão a mesma “Mulher Dragão” que o cine Niterói (há cerca de 15 anos o distribuidor oficial das fitas da Toei no Brasil) aqui já lançou em março de 75. ao que parece, virão agora muitas dessas fitas. E o Niterói delas só terá direito de exibição no original japonês, sem dublagens e sem remontagens e só em seu próprio cinema, nesta Capital. Sintoma das situações de “imbróglio” a que chegou o negócio cinematográfico em toda a parte”.

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 20/03/77.

O INQUILINO ("Le Locataire")

“Polanski realizou em sua pátria (a Polônia) e na Inglaterra, dois dos mais significativos e perfeitos filmes de nosso tempo: “A Faca na Água” e “Armadilha do Destino” (“Cul de Sac”). Os também ingleses “Repulsa ao Sexo” e “A Dança dos Vampiros” e os americanos “O Bebê de Rosemary” e “Chinatown” são igualmente obras tidas em grande ou mesmo na mais alta conta pela generalidade da crítica. Pois de Polanski temos agora esta primeira fita realizada na França. É a história de um homenzinho comum (o próprio diretor) que aluga um apartamento num dos prédios de Paris, um apartamento onde a inquilina anterior tentou suicídio atirando-se pela janela e, no hospital, desenganada, deverá morrer a qualquer momento. Críticos ingleses falam em Kafka, em Freud e em Poe. E a estes poderíamos acrescentar o clima de “The Lodger” (o “Jack o Estripador”, de John Brahm com Laird Cregar) e de “O Desconhecido” (“Passing of the Third Floor Back”), o misterioso clássico inglês que Berthold Viertel dirigiu em 1935, com Conrad Veidt. No elenco a talvez superestimada Isabelle Adjani de “Adele H” e o grande veterano Melvyn Douglas. Um dos lançamentos mais atraentes do ano.”

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 03/04/77.

AS INCRÍVEIS PERIPÉCIAS DO ÔNIBUS ATÔMICO ("The Big Bus")

“Correria americana e com “problemáticas” atuais. Mas o molde ainda é o do clássico “Grand Hotel”, um “Grand Hotel” sobre rodas. E apesar de comédia, um filme sobre catástrofes (ou vice-versa). O primeiro ônibus atômico em viagem inaugural Nova York-Denver. Toda uma humanidade modernosa a bordo. Mas sabotadores e serviços de companhias petrolíferas colocam bomba a bordo. Lynn Redgrave faz uma figurinista ninfomaníaca, enquanto que Sally Kellerman e Richard Mulligan são um casal que briga furiosamente e depois se ama da mesma forma sem ligar aos presentes. E Stockard Channing é a “mocinha”, filha do inventor do veículo e ex-noiva do seu chofer, Joseph Bologna. Uma mocinha com nome de ator característico (no filme ainda hoje no Metro 2, há outra doce jovem com o contestatório nome de Meredith Baxter Birney; logo mais no nosso tão independente e pessoal cinema veremos alguma “linda e intelectual” atriz atendendo por algo assim como Nogueira Moncorvo Mattosinho, que claro, não podemos ficar atrás em tão magnas inovações.”

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 03.4.77.

VINGANÇA DO ALÉM ("Shadow of the Hawk")

“A surpresa norte-americano-canadense da semana e talvez uma das mais efetivas da temporada, em que pese a opinião do convencional e meio sintomática no “Variety” de 14 de julho passado(“a banal low-budget action meller”). Como nunca se deve temer o que em média as visões deficitárias e pretenciosas costumam catalogar indiscriminadamente de melodrama (quando a produção não é estirada, pomposa, literatoide ou hipocritamente engajada) e como há bons motivos (cinemáticos) para se acreditar no George McCowan de “A Balada de Andy Crocker” (feito para a TV) ou do independente, pouco custoso mas curioso “A Invasão da Rãs” (com Ray Milland), convém assistir a este filme, que talvez estaria melhor programado nas salas Portinari, Centro 2, Marachá-Augusta ou Cinema Um. “Rodado” nas imediações de Vancouver, gira em torno de um velho doutor pele-vermelha, uma espécie de curandeiro, Page (Chief Dan George), que procura preparar o neto(Jan-Michael Vincent) para herdar o seu posto, aprendendo os ritos ancestrais e exorcisando os espíritos malignos, fonte de todas as desgraças que assolam a tribo. O desafio, porém, não fica sem conseqüências. E tudo em meio a uma narrativa que tem como pano de fundo a violenta beleza da paisagem da Columbia Britânica. Para quem apreciou o significado de “A Balada de Andy Crocker”, uma verificação obrigatória.”

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 29/05/77.

SETE MULHERES PARA UM HOMEM SÓ

“Marlene Dietrich, depois de “Mulher Satânica” (1935), ou talvez ainda “Anjo” (37), e Greta Garbo, depois de “Duas Vezes Meu” (41), nem mesmo sendo as deusas que eram e mesmo tendo milhões de fãs pelo mundo todo, conseguiram condições para produzir sequer um novo filme como seria o certo – para elas e na sua grande forma (não falamos aqui em “A Mundana” (48) ou “Testemunha de Acusação” (58) pois estes foram apenas “chances” de período de sobrevivência que o talento e a excepcionalidade de Dietrich aproveitaram à quintessência. Se tal tivesse acontecido, sem dúvida alguma, em muita coisa o panorama artístico internacional teria sido outro. Bem! Não aconteceu com elas, nem em Hollywood, nem em Roma, Paris, Londres, nem em Berlim (culpa da ocupação e da vocação perseguidora e suicida do mundo aliado), nem em Estocolmo (culpa cabal, total e imperdoável de Ingmar Bergman). Mas aconteceu no Rio (com o auxilio financeiro e apoio específico do produtor paulista Elias Cury) para Lameri Faria ostentar todo o seu absurdo cinematográfico em mais esta pornochanchada terrível imaginada e perpetrada por seu marido, o também ex-ator Mozael Silveira. A história, como sempre acontece nas produções do gênero e intenções, não é exatamente o que o título sugere mas sim a narrativa claudicante de três ladras que se escondem numa casa que na ausência dos proprietários está sendo sublocada pelos irresponsáveis empregados. Aqueles chegando, a confusão é tanta que até a polícia acaba tendo que ser requisitada.”

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 29/05/77.

MONSIEUR ARKADIN, ex-GRILHÕES DO PASSADO ("Mr. Arkadin")

“Num momento particularmente infeliz, em que nada se distingue qualitativamente, pela terceira vez consecutiva a “nota artística” é dada por uma casual “reprise” do Cine Coral. Agora esta obra de um virtuosismo narcísico e barroco que um Orson Welles egresso de Hollywood e ingenuamente deslumbrado com a Europa realizou em oito meses de locações na França, Espanha, Itália e Alemanha, tentando repetir a receita de “Kane”. Um torvo nababo contrata gente para investigar o “dossiê” de misterioso personagem internacional e a figura em questão é ele mesmo. A fita, em distribuição da Warner Bros. aqui, a 24 de março de 1958, na então falta de um cinema de arte (que agora temos, são quase dúzia e nenhum cumpre sua função) foi assustadamente relegada a um programa duplo do extinto Cine Broadway, onde provocou delírios de crocodilo naqueles conservadores ensaístas que primeiro esperaram o pronunciamento da crítica européia para depois se arriscarem a “gostar” de Welles.”

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 16/06/77.

A PORTA ENTRE O ÓDIO E O MEDO ("Les Guichets du Louvre")

“Filme francês sobre uma batida mortal que em julho de 1942 os nazistas ordenaram contra 13.000 judeus franceses residentes em Paris e que 9.000 policiais burocratas, também franceses, levaram a termo, com a inconsciência e o alheiamento que só aqueles que costumam ser cegos e servis na obediência a ordens cretinas ou monstruosas são capazes. E que, infelizmente, é uma espécie de gente que continua a se reproduzir em massa, em qualquer lugar e para qualquer ocasião e tipos de opressão ou violência. Tratando-se de fita francesa onde tanta monstruosidade de tempo de guerra é praticada, o louvável (ou o inacreditável) é que o diretor Michel Mitrani tenha podido fazer questão de não mostrar nenhum soldado alemão, nenhum nazista, mas só o quinhão de culpa da prata da casa. Auto-escarmento de um tipo que sempre vimos em fitas americanas mas não em obra de outra procedência e muito menos francesas. Um filme a verificar, não obstante nos pareça inútil a colocação do interesse amoroso, romântico para poder esmiuçar e tornar mais pungente o drama.”

JESUINO BRILHANTE, O CANGACEIRO

“Extemporânea excrescência do ciclo “cangaço” que só males trouxe ao nosso cinema. E fita que, não obstante o aumento do número de dias de exibição obrigatória, foi parar no crematório programa triplo de uma salinha “off” como a do Los Angeles. Aliás, tratando do outorgado aumento do número de dias, justamente agora quando a concorrência se faz entre o cinema brasileiro dos tubarões (sejam os das “liasons dangereuses”, sejam os das “chanchada”, da pornografia, dos “interesses paralelos” ou da absoluta falta de rebuços) e cinema brasileiro dos “peixes pequenos” (ou sejam os independentes, os “não alinhados”, os que não podem desrecalcar, gratificar ou coagir certos estrategistas da imprensa e da crítica, distribuição, etc., sejam os das fitas mais artísticas, das produções mais ingênuas ou simplesmente das menos matreiras ou apenas mais comuns, mais normais) o mercado ficou absolutamente fechado. Com a concorrência, antes dita desleal das fitas estrangeiras, quase que todos lutavam e saiam arranhados mas semi-ressarcidos. Agora com a concorrência inegavelmente brutal e desleal dos feudais nacionais, a luta está sendo impossível, como qualquer relação e informes feitos com coragem, imparcialidade, dados e critério pode demonstrar fácil e escandalosamente.”

AS DESQUITADAS EM LUA DE MEL

“O que transforma um filme em “pornô-chanchada”? Nem sempre os atores caricatos ou circenses (porque às vezes interpretes excelentes não conseguem evitar a “debacle”, figuras comprometidas ao serem tratadas com dignidade resultam positivas). Nem sempre, também, o erotismo, o sexo cru ou a sua exacerbação, pois senão o que dizer do Boccaccio ou das literaturas ou obras “audazes” de vários países? Em verdade é a entrega prévia e sem rebuços a um tom subalterno, predatório e condenável, um tom (ou sua falta) que violenta qualquer realidade. E aqui temos mais uma vez ocasião de defrontar com o “problema”. Em primeiro lugar as histórias de Salvá (são duas e até que poderiam ser boas) não tratam do que o título sugere mas sim da reconciliação de duas desquitadas com os respectivos ex-maridos. E tudo fica comprometido pela intenção inicial de já querer fazer o pior, já “apelar”. No elenco, provavelmente o domínio deverá ficar com o verismo de tipo de Otávio Augusto.”

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 18/09/77.