domingo, 9 de maio de 2010

A MULHER DO DINHEIRO ("La Banquière")

“Quem diria que a austriacazinha Romy Schneider, maravilhosa já desde sua adolescência e, pela desculpa do lado dulcuroso da série “Sissi”, tão atacada e tão ridicularizada pelos afetados e exigentes cosmopolitas-nacionalistas de toda a parte que se julgavam donos de uma refinada formação francesa e a acoimavam de “ser alemã”, acabasse sendo a mais popular e respeitada atriz do cinema francês? Pois aqui está ela de novo, num dos filmes que fez pouco antes de mais duas tragédias que a abalaram recentemente (a morte de seu filho menino e a doença cruel que dizem anda rondando). O filme é este La Banquière, no qual a filha de Magda Schneider e Wolf Albach-Retty vive uma espécie de “Stavisky” de saias, não uma scroc como o homem do célebre affair de inícios da década de 30, mas sim uma audaciosa aventureira das finanças que realmente existiu na França dos anos 10 até 1936, quando morreu. A figura real, Marthe Hanau, gordinha, pequena e de feminilidade insuficiente, não tinha a beleza nem a personalidade de Romy, mas era também temperamento forte e dominante. Nem todos os fatos aqui são mostrados como realmente se passaram. Mas o diretor Francis Girod diz que procurou mais a magia romanesca passível no cinema e aproveitar ao máximo as vantagens de uma produção ambiciosa custosa e caprichada. Esperamos que o tenha conseguido, porque, embora dele não tenhamos visto “O Trio Infernal”, uma história de passionalidade, anomalia e crime, com a própria Romy, mas os também maravilhosos Michel Piccoli e Andrea Ferreol, vimos um “Emmanuelle, Privilégio de Poucos” (“René, La Canne”), com Sylvia Kristel, Gérard Depardieu e Piccoli, que era de uma assimetria e nulidade a toda prova. Contudo, Romy é sempre Romy e vale a pena arriscar, ainda que seja só por ela.”


Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 14/02/82.


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