sábado, 23 de maio de 2009

AS BRUXAS ("Le Streghe")


"Expoente de uma das muitas (embora curtas) fases áureas ou melhores porque atravessou cinema italiano depois da explosão (ou imposição?) "neo-realista": a fase dos espetáculos caprichados, com alguma consistência a mais e a servir de veículo para um "estrelismo", no caso de Silvana Mangano, já que o produtor era o seu então marido De Laurentiis. E falando em capricho ou requinte implica falar de Visconti, a quem pertence o primeiro e talvez melhor episódio, aquele no qual Silvana é uma famosa estrela de cinema, pré-fabricada, bela e invejada, mas profundamente infeliz em sua vida particular. Capricho também no segundo, do esteta Bolognini onde ela é uma milionária que atropela Sordi e só o conduz ao hospital para poder chegar mais cedo a um encontro amoroso. No terceiro, a "Terra Vista da Lua" é a insólita poesia crítica de Pasolini com a atriz como uma surda-muda e Totó e Ninetto Davoli, pai viúvo e filho camponeses, em algo reiterando a fábula quase necrófila do "La Donna Scimmia", de Marco Ferreri em 1963. No episódio de Franco Rossi ela é uma siciliana cujas lamúrias levam o pai a matar o namorado e a uma sucessão de "vendettas" que liquida todos os homens das duas famílias. E no quinto (de De Sica) Silvana é a esposa que almeja ter poderes de feiticeira a fim de reter o marido Clint Eastwood. Houve também um outro episódio, de Mario Monicelli, que foi eliminado da montagem final, repetindo o que já havia sucedido ao cineasta com seu trecho de "Bocaccio 70". A fita aqui foi originalmente lançada a 14 de agosto de 1969, no então recém-inaugurado Cine Palmela."

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo", de 22/10/78.