domingo, 9 de maio de 2010

KRAMER X KRAMER ("Kramer Vs. Kramer")

“Não foram só os ditadores ou os demagogos tipo Perón, Poujade, Getúlio, Ademar que descobriram que lábias popularescas rendiam dividendos. Ou a lição pegou, ou o mundo já estava não “maduro para o socialismo” e sim para a “enganação”, ou, então, os cínicos e carreiristas ante a “dialética vigente” ou as “condições históricas de nosso tempo” automaticamente perceberam que é muito fácil nesta triste época fazer do “engajamento” e da “não alienação” um excelente meio de vida, de empreguismo, de gazuas para as sinecuras, as mordomias, o brilho “vedetístico” de toda espécie. E numa época assim em que tanto se deturpa, tanto se finge, tantos lobos colocam as roupas e os óculos da avózinha, mais que por seus méritos cinemáticos é importante verificar que o cinema já não tem mais medo de voltar a fazer fitas como esta: apenas mais uma história sentimental que torna a acionar a velha trama de “O Campeão”, de 31, com Wallace Beery, Irene Rich e Jackie Cooper, na qual marido e mulher, separados, disputam o filho de sete ou oito anos. As roupagens e certos usos e diálogos, ou melhor, certas aparências e frases feitas são do malfadado tipo “estou em consonância com a minha época”, etc. Mas o conflito básico é mesmo aquele, a que, aliás, ainda neste ano, Franco Zefirelli igualmente tornou a usar na versão com Jon Voight, Faye Dunaway e o menino Ricky Schroeder. Este “Kramer...” já recebeu 12 prêmios entre a imprensa estrangeira em Hollywood e os críticos de Nova York e Los Angeles. E está fortemente cotado para nove “Oscars”, dos quais o mais merecido é o que indica como coadjuvante (aliás deveria ser como atriz) Meryl Streep, realmente uma personalidade, uma ductibilidade e uma figura de classe, entre tanta gente no cinema atual completamente destituída disso tudo. Só por ela o filme que parece vai iniciar nova e importante fase lançadora no Cine Metrópole, já deve ser visto.”


Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 30/03/80.


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