segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

SHAMPOO ("Shampoo")


"As astucias e a “dolce vita” de um cabeleireiro de senhoras que utiliza o estigma da profissão para melhor poder conquistar as clientes ricas e avoadas, belas e sedutoras (só que não sabemos se os dois últimos atributos podem, em sã justiça, ser aplicados a Julie Christie e Goldie Hawn, sem graça a primeira e uma caricatura, a segunda). O filme constituiu grande êxito nos EUA e foi candidato a vários “Oscars” importantes, mas ganhou só o de melhor atriz coadjuvante, atribuído à veterana Lee Grant, que aliás já havia sido candidata ao mesmo troféu há um quarto de século, com seu desempenho de uma ladra em “Chaga de Fogo” (“Detective Story”), de William Wyler. “Shampoo” foi produzido, co-escrito e estrelado por Warren Beatty, o absurdo, senão duvidoso irmão de Shirley MacLaine. Mas segundo a crítica é obra brilhante, embora não tão analítica quanto o assunto permitia, assunto aliás que, parcialmente e noutro tom, mas com muita criatividade foi antecipado principalmente pela interpretação de Erasmo Carlos no filme nacional “Os Machões”.”

Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 23/05/76

ANDREI RUBLEV, O ARTISTA MALDITO("Andrei Roublev")


“Um dos mais desejados e aguardados “filmes de arte” dos últimos oito anos, este sobre a vida de Andrei Rublev, pintor da Santa Rússia, no século XVII, bárbaro, iconoclasta, controvertido, mas ao que parece, dotado de gênio. Dirigido pelo mesmo Andrei Tarkovski do decepcionante “A Infância de Ivan”, mas posteriormente também o realizador do surpreendente “Solaris”. Andrei Rublev, após seu término ficou uns quatro ou cinco anos interditado pela censura na U.R.S.S. só sendo liberado em 1971 e depois que, em 1969, misteriosa e clandestinamente levado a Cannes, foi candidato fortíssimo à “Palma de Ouro” e acabou recebendo, “ex-aequo” com “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, de Glauber Rocha, o prêmio de melhor direção. O motivo da celeuma, ao que parece, eram as especulações sobre a liberdade do artista e de seu eterno direito à rebelião. Segundo nosso falecido correspondente na Europa, Novais Teixeira as seqüências coloridas do final que revelam as culminâncias atingidas pela obra pictórica de Rublev são de um impacto absoluto. A narrativa é dividida em oito trechos cada um sobre um “motivo” ou um “item”. A Columbia anunciou mas demorou muito a nos trazer o filme. Mas agora ele ai está. E sua apreciação ou aferição tornam-se obrigatórias.”



Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 12/09/76

OS ÍDOLOS TAMBÉM AMAM ("Gable and Lombard")


“Biografia romanceada e em muitos pontos falseando ou idealizando demais os fatos, a fim de obedecer os esquemas de fitas biográficas que Hollywood sempre impôs a si mesma. Só que desta vez os biografados foram dois astros e alguns produtores e “colunistas” de mexericos dos mais conhecidos da própria cidade do cinema (até Vivien Leigh é revivida através da “starlet” Morgan Brittany). Por outro lado, a geração atual, mesmo periodicamente vendo e revendo Clark Gable em “...e o Vento Levou” em sucessivas “reprises” e sempre tendo na televisão os filmes de Carole Lombard (parece que sábado ou domingo próximo, “Dama por Vontade”, um seu filme de 1934 reaparecerá numa de nossas tevês) quase não sabe quem foram Gable e Lombard, o que poderá nos levar à melancólica conclusão que, mais que os apaixonantes filmes ou a magnética personalidade de seus astros e estrelas, era a publicidade, a expectativa, os noticiários na imprensa e os “potins” que “faziam” o poder e o fascínio (aquele tempo imensos) do cinema de Hollywood. Gable é interpretado, com preocupações de semelhança física e peculiaridades de voz por James Brolin, um ator da TV (série “Marcus Welby”) e Carole com intenções de elegância, “humour” e malícia por Jill Clayburgh, uma atriz da Broadway em seu primeiro maior papel no cinema. O filme, porém, não foi muito calorosamente recebido pela crítica americana.”



Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de12/09/76

UMA CANÇÃO PARA VOCÊ ("Ein Lied fur Dish")


“O derradeiro filme alemão de Joe May, um dos grandes diretores desse cinema entre 1912 e 33, cineasta pioneiro e autor de obras antológicas como “Hilde Warren und der Tod” (de 1919 e cujo roteiro era de Fritz Lang), de “Senhora do Mundo”, de “Dagfin” (de 1926, estranhíssima história de ciúme e sadismo, sexo e vingança, com o “Golem” Paul Wegener e a bela italiana Marcella Albani), como os antológicos “O Canto do Prisioneiro” (28) e “Asfalto”. Em Hollywood, onde se refugiou em 37, Joe May começou dirigindo o último filme de Kay Francis como “super-estrela” (“Confession”, 37, aliás refilmagem do “Mazurka” de Willi Forst e Pola Negri) e foi também o responsável pela maior oportunidade de Margaret Lindsay – “A Casa das Sete Torres”, 40. Aqui, depois de uma viagem de estudos a Hollywood para aprender a “leveza americana”, May criou um musical bem à européia, bem à vienense, que era a sua origem e sua formação. A fita foi a terceira do tenor Jan Kiepura, que foi marido de Martha Eggerth, a deusa de “Sinfonia Inacaba”. As canções “Ninon” e “O, Madonna”, também marcaram época e conheceram versões nacionais em quase todo o mundo. Um exemplo de cinema do gênero que os germânicos faziam na dourada década de 30.”



Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 26/09/76

2001 - UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO ("2001: A Space Odissey")


“ “Superprodução” do gênero “science fiction”. Para a época em que foi planejada e realizada (entre 1965 e 67) seu custo foi elevadíssimo: 12 milhões de dólares. E realmente, do ponto de vista da beleza inventiva dos efeitos especiais, sobretudo os dos desembarques intergaláticos, um esbanjamento de virtuosismo e “reussites”. Realmente, como produção “classe especial”, filme que causa aquele impacto que só o dinheiro, o poderio e a segurança técnica conseguem causar. Mas já de outro ponto de vista, uma obra que não ameaça a humilde essencialidade de, por exemplo, “O Homem do Planeta X”, de Edgar G. Ulmer. Aqui foi originalmente lançada a 4 de julho de 1968 no Cine Majestic. E, entre continuas reexibições, já reprisada a 23 de setembro de 1974, nos Cines Windsor e Rio. A cópia era então péssima, mas cremos que desta vez o filme vem em cópias novas mesmo”.



Publicado originalmente no ‘O Estado de S. Paulo” de 17/10/76

CASA MALUCA ("The Big Store")


“Houve um tempo em que as grandes lojas consubstanciavam quase todas as noções de conforto e prazer, luxo e requintes facultados pela Revolução Industrial (não haviam ainda inventado nem a “boutique” enganadora, nem o supermercado comum). Em Londres ou Paris, Nova York ou Berlim,Viena, Budapeste, Madrid ou Buenos Aires, até mesmo no Rio e em São Paulo, grande loja era uma espécie de vitrine feérica (daquelas com cristal, metais dourados, veludo vermelho e tudo) dos sonhos de consumo de qualquer mortal. Pois ainda desse tempo é a mítica que Groucho Marx (um detetive particular e guarda costas sem clientes) e seus dois irmãos, Harpo (seu cozinheiro, chofer, vigia, biscateiro, etc.) e Chico (um músico maluco, irmão de Harpo) põem de cabeça para baixo quando a vítima favorita de Groucho, a monumental Margaret Dumont, herdeira de um grande magazine, procurando detetive nos anúncios classificados vem a eles, ou melhor, vem a Groucho pedir ajuda: vários atentados foram feitos contra a vida de seu sócio e irmão adotivo Tony Martin e ela, Margaret, apesar de não ser nada frágil, está amedrontada. E recorre justamente a Groucho, que mesmo não sendo o assassino nem por isso acarretará menores hecatombes à respeitável matrona. Apesar da obscuridade do diretor Riesner, mais um filme dos Marx, mais um filme de Groucho, com sua “musa” Margaret Dumont. E um filme com uma parte de música, arranjos orquestrais e vocais e coreografia caprichados (Leo Arnaud depois estaria dando demonstrações de seu talento nos melhores musicais coloridos de Arthur Freed). E um elenco secundário com muita gente boa: Virginia Grey, Marion Martin, Russel Hicks, Douglas Dumbrille, Charles Lane, Joe Yule e a inimitavel Virginia O’Brien. Aqui originalmente lançado no antigo Metro, em fins de janeiro de 1942, “Casa Maluca” é uma “reprise” bem-vinda.”



Publicado originalmente no ‘O Estado de S. Paulo” de 24/10/76

O CÍRCULO DO SEXO ("Reigen")


“Nova refilmagem da obra de Arthur Schnitzler. Modernamente a terceira, caso não tenha havido alguma anterior à versão 1950, “Conflitos de Amor”, realizada por Max Ophuls ou à outra “La Ronde”, também francesa e bastante inferior, tentada por Vadim em 1964 com sua então esposa Jane Fonda num dos vários papeis centrais. E caso não contemos o “ballet” “Ciranda”, um dos três que integravam o “Convite à Dança” de 1957, o musical colorido que Gene Kelly encenou para a hoje tardiamente celebrada série do produtor Arthur Freed na Metro. O diretor desta versão alemã, Otto Schenk, vem do teatro e da Opera e diz que procurou antes de mais nada a fidelidade ao espírito, à ambientação e ao erotismo vienense da obra de Schnitzler, pontos algo relegados nas versões anteriores. Vejamos. No elenco, a credencial maior e mais garantida é a espontaneidade, a absoluta veracidade de Maria Schneider, de vez que ninguém – supomos – irá esperar mais que o vazio nas presenças de Helmut Berger ou Sydne Rome.”



Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 24/10/74

POSSUIDAS PELO PECADO


“No filme de Lattuada, a tragédia grotesca de um ambicioso sem escrúpulos que tudo tenta fazer para se fazer na vida. No original de Schnitzler, toda uma cadeia de amores ilícitos e suas implicações. Aqui também ambições terríveis, maquinações e muito pecado e muito amor proibido. Mas outros, muito outros e diferentes, origens, intenções, processos, interpretação, resultados. Fita feita precipuamente para o estrelismo narcísico e para os dardos comerciais do produtor David Cardoso. Precipuamente para reeditar ou melhor, continuar seus êxitos e bilheteria em “A Ilha do Desejo” e “Amadas e Violentadas”, que fez com direção e entrecho de Jean Garret. Uma oportunidade para Garret dar vazão a um “mood” gramatical de certo modo expressivo e condizente (e claro que bastante “kitsch”) com a tara, mas personagens e situações fluíam bem mais e melhor no primeiro filme. No segundo já pendia para a fórmula encontrada.”



Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 24/10/76

O SEXUALISTA


“Permissividade (como no caso anterior estamos procurando uma fórmula elegante de evitar determinado termo de uso corrente) à brasileira, ou melhor, à paulista. Para sobreviver num mundo adverso, um escritor medíocre (não há contradição nisso? Pois nesse caso o mundo só poderia ser inteligente e nada errado) só encontra um trabalho digno (outra contradição?): escrever um Dicionário do Sexo, com termos e expressões de gíria sexual para editora de segunda ordem. Expulso da pensão por não poder pagar o aluguel prefere transferir-se para a adequação de um prostíbulo, mas como este é fechado pela polícia, ele se instala na cadeia, onde também vamos encontrar problemas de herança e planos de assassinato e “golpes do baú” (pelo visto a semana vai permitir confronto entre as maneiras nacionais e estrangeiras de lidar com Vênus e com Mercúrio). No elenco, vejamos o que acontece com Xandó Batista, Maracy Mello, Lola Brah.”



Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 24/10/76

DUELO DE GIGANTES ("The Missouri Breaks")


“Uma história típica dos “westerns” dos grandes tempos. Mas os grandes tempos se encaixarão direito nos dias de hoje? Essa é a questão. De qualquer maneira, a história é de um “western” legítimo e não uma contrafacção a base de pseudônimos e clichês ridículos. Em Montana, 1880, um rancheiro (John McLiam) cansado das violências de um bando de ladrões de cavalos parte para a justiça sumária. Os quadrilheiros, chefiados pelo desordeiro Jack Nicholson, voltam à carga com mais fúria. McLiam então contrata um pistoleiro profissional (Marlon Brando) para exterminar a quadrilha. Mas sua filha (a novata Kathleen Lloyd) está apaixonada por Nicholson. E tudo caminha para o clássico embate final. Um filme de ambições intelectuais e conotações sócio-psicológicas, típico do estilo estranho e flutuante de Penn, que tanto pode apresentar obras discutíveis e destorcidas como “Mickey One”, “Caçada Humana”, “Alice’s Restaurant”, como também um apanhado exato sobre o mundo desatinado de hoje – caso de “Um Lance no Escuro”. No elenco, se a influência de Brando como diretor pode ser benéfica (não esqueçamos o expressivo “A Face Oculta”), a possibilidade de sua presença como ator, no estágio de degenerescência de tipo e “maneiras” em que se encontra é apavorante. Jack Nicholson, sobretudo depois do “Oscar” de “Um Estranho no Ninho” representa outro perigo: ele está cada vez mais apurando os defeitos que o afastam do único personagem realmente normal de “Easy Rider” e que o atiram aos impasses tipo Arthur Kennedy, Paul Muni ou James Cagney. Em todo o caso, pensando no inesperado acerto de “Lance no Escuro”, um filme precedido de elogios e restrições, mas a ver.”



Publicado Originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 21/10/76

JOANA D'ARC ("Joan of Arc")


“A versão cinematográfica da peça de Maxwell Anderson sobre a donzela de Domremy que Ingrid Bergman, então reinando absoluta em Hollywood, praticamente financiou e produziu, sem entretanto obter o êxito de crítica e de público que esperava. Infelizmente cabe ressaltar que o erro de cálculo foi da atriz, pois com o tempo e dinheiro, pesquisas, confecção de ambientes e roupagens, celulóide, intérpretes masculinos e equipe técnica aqui despendidas, La Bergman poderia perfeitamente ter realizado umas três ou quatro fitas “normais” mas especiais para ela, naquela sua maravilhosa maneira de então e dependendo exclusivamente dela e de alguns diretores de talento à época disponíveis em Hollywood (um Edmund Goulding, um Fritz Lang, um King Vidor, um Mamoulian, Josef Von Sternberg e outros mais) e o resultado teria sido outro e talvez outra seria a crônica da Cidade do Cinema nos anos que se seguiram. Mas interpretar Joana era um de seus sonhos, como também de Michele Morgan, Luise Rainer e tantas outras “estrelas”. E o filme foi feito, sem atentar que utilizar uma peça de Maxwell Anderson representava risco muito grande (doze anos antes a versão em celulóide de “Mary Stuart” havia constituído o primeiro abalo na carreira, até então invicta, de Katharine Hepburn). Ingrid depois, já na malfadada fase Rossellini, interpretaria no cinema italiano e no teatro francês o oratório de Honnegger “Jeanne au Bucher” (“Giovanna d’Arco al Rogo”). Este “Joan of Arc” aqui foi originalmente lançado a 15 de maio de 1950, no circuito Art Palácio e Paratodos. E não obstante sua assimetria artística, por Ingrid, pela raridade e pelo que consubstancia uma época e algumas “práxis” do cinema norte-americano é uma “reprise” a ser vista.”

Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 14/11/76

ESTA PEQUENA É UMA PARADA ("What's Up, Doc?")


“Bogdanovich ainda beneficiando-se da ótima impressão causada por seus dois primeiros filmes: “Na Mira da Morte”, com o genial Karloff e “A Última Sessão de Cinema”, um dos primeiros carros-chefes da logo truncada e falecida “nostalgia”. Aqui o diretor está numa das suas chaves prediletas – a “citação” como a compreendiam (e praticavam) os irrequietos meninos do “Cahiers du Cinema”. E a citação no caso é a de “Levada da Breca” (“Bringing Up Baby”), a comédia que Howard Hawks dirigiu em 1938 com Katharine Hepburn e Cary Grant. Barbra Streisand parafraseando mais o Coelho Pernalonga do que Katharine, é a mocinha avoada heroína que põe de pernas pro ar a carreira e a vida privada de seu professor. E Ryan O’Neal substituindo Cary Grant faz o referido. A fita aqui foi originalmente lançada a 5 de fevereiro de 1973 no circuito Ipiranga e, a rigor, talvez nem devêssemos considerá-la “reprise”.”

Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 14/11/76

A FÚRIA DOS GÂNGSTERS, Ex - A ÚLTIMA CENA DE TIROS ("Ankokugai no Taiketsu")


"Um dos “ballets macabros” que a Toho produzia década e meia atrás. Ou seja, filmes policiais e de “gangsters” exagerada mas criativamente estilizados e artificializados em todos os seus componentes: atuações, violência, sangue, “décors”, roupas, música, ritmo, forma. E que sempre será interessante reavaliar, não obstante os proverbiais desatinos do diretor Kihachi Okamoto. O elenco central, excluindo-se justamente o “astro” Toshiro Mifune, é dos mais essenciais e qualitativos que uma fita japonesa daquela grande fase poderia ter reunido: a lindíssima Yoko Tsukasa, os impecáveis Tsuruta, Kawazu, Nakamaru, Tazaki, Natsuki. A música é do antológico Masaru Sato. Aqui foi originalmente lançado a 3 de julho de 1962, no Cine Áurea.”

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 14/11/76

TRÁGICA DECADÊNCIA ("Mio Dio, Come Sono Caduta in Basso!")


"Talvez uma guinada na carreira de Luigi Comencini, o ex-jornalista e “neo-realista” que melhores resultados obteve quando se debruçou sobre o tocante mundo da infância: “Bambini in Citta” (1946, sua obra de estréia), “Heidi” (1952, na Suíça), “Quando o Amor é Cruel” (“L’Incompresso”, 1966). Aqui um drama de época (1900), uma espécie de “Sedotta e Abandonatta” misturada a ‘Pena que Ela seja uma P...” na qual a bela Laura Antonelli é a marquesa Eugenia de Magueda que se casa com Raimondo Corrao (Alberto Lionello), membro de outra ilustre família, para, na noite de núpcias, surgirem suspeita de que ambos talvez sejam irmãos. Tanto o título original italiano, quanto sua acadêmica versão brasileira (que seria a sério para os padrões de 20 ou 30 anos atrás) dão idéia de que, mais que tremebundo melodrama, o “motivo” pode ter resultado em violenta farsa. A verificar."

Publicado originalmente no ‘O Estado de S. Paulo” de 28/11/76

ESCÂNDALOS DE BETTY BOOP ("Betty Boop's Scandals")


"Uma excepcional atração deveria ser esta coletânea dos filmes de Betty Boop, a singular figurinha animada, baseada se não nos enganamos no tipo da “flapper” criada no cinema mudo por Clara Bow e que também se antecipou à fenomenal eclosão cinemática de Mãe West. Mas Betty Boop foi considerada provocante demais, e até pornográfica, quando do advento e conseqüente ditadura do “Hays Office” (a contraproducente censura que se abateu sobre os melhores anos do cinema americano). E consequentemente cassada e só nos últimos anos é que começou a ser reabilitada e novamente reavaliada. Mas o que veremos agora não é – parece – o “The Betty Boop Follies”, de 1972, que Londres viu em meados de 1974, uma elogiada reunião de 14 dos desenhos por ela estrelados entre 31 e 38, mas sim nove outros desenhos nem todos de Betty mas também de outras criações dos irmãos Fleischer como Koko, o palhaço e Bimbo, o cachorro. E parece, ademais, que não se trata de uma fita de metragem especialmente selecionada e editada mas tão somente do agrupamento de alguns desenhos esparsos, cada qual com certificado de censura isolado. Nada disso terá importância se a seleção realmente for válida e representativa. Que é o que ainda esperamos, mesmo sabendo que dela não faz parte “Betty Boop’s Trial”, sardônica autodefesa da própria Betty ao tempo (34) em que começou a ser perseguida pelo ridículo moralismo dos acólitos de Mr. Hays."


Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 12/12/76