domingo, 9 de maio de 2010

NÉA, A NINFETA ("Néa")

“O incidente entre Libertad Lamarque e Evita Duarte (depois Eva Perón) que resultou no banimento da cantora, a vaidade e o exibicionismo da “starlet” Tilda Thamar que também se refugiaria (mas em Paris) e até entraria para o cinema francês e conseguiria casar com um conde (Toptani), as então audácias nudistas e eróticas em celulóide por Isabel Sarli e Libertad Leblanc, que fariam com que Isabel fosse amargamente recriminada e até proibida de trabalhar em seu país. A toda essa crônica agitada de atrizes argentinas, devemos também adir o caso de Nelly Kaplan. Nascida em 1931 e indo à França como jornalista, Nelly começou fazendo-se íntima colaboradora de Abel Gance e escrevendo poemas eróticos, passando depois a realizar documentários tidos como de qualidade e, depois, dirigindo dois longas também elogiados, como La Fiancée du Pirate (69) e Papa les Petits Bateaux (71), esta nada menos que com Michel Lonsdale. E aqui temos finalmente entre nós uma fita que ela lá dirigiu em 76. É a história de uma adolescente que depois de quase ser presa por roubar novelas eróticas de uma livraria, acaba, não obstante sua “inocência”, escrevendo uma do mesmo gênero, mas bem mais forte e exigindo de seu quase acusador e editor, todo o respeito “durante” e “depois”. Como ele não cumpre, ela se ofende, rompe, mas desse desentendimento, nasce entre ambos um forte amor, como sempre, desde Colette a todo o teatro e cinema e ficção franceses, muito encontradiços e que sempre os aficionados do gênero tiveram à sua disposição. A história aqui foi tirada de romance de Emmanuelle Arsan. Pelo best seller que levou o seu nome, não atinamos o que Mme. Arsan pode ter na cabeça. Mas o crítico inglês do “Monthly Film Bulletin”, Verina Glaessner, com uma perversidade bem feminina, comenta que ao adaptar a novela de Arsan, Nelly apresenta um filme que é provavelmente o “mais pessoal (e Obliquely...) autobiográfico que ela fez até então”. O editor, e galã, é o inacreditável Sami Frey e, quanto à protagonista Ann Zacharias, a julgar pelas fotos, dificilmente Nelly Kaplan poderia ter encontrado uma atriz que pudesse parecer tão argentina. A própria diretora aparece num pequeno papel, como uma bibliotecária. Certo renome ela tem – vejamos agora seu filme.”.


Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 13/03/82.


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