domingo, 2 de janeiro de 2011

O PEDESTRE ("Der Fussgänger")

“O terceiro filme dirigido pelo irmão de Maria Schell. E infelizmente mais um filme sobre um tipo “caça às bruxas” de que ninguém fala e que tem uma “utilidade” estratégica enorme. Mais um filme sobre um “plot” que é sempre o mesmo; mais uma desconversa sobre o “crime coletivo”, sobre o “complexo de culpa” do povo alemão. Simbolismo? Real preocupação para que não se repitam os horrores de 1933 ou de 1939 a 1945? Mas se eles já existiam antes, embora sob formas e latitudes, cinismos e intensidades diferentes, e continuaram e continuam existindo até hoje? E ademais, é claro que todos os que tinham índole e pensamento totalitário, inumano e oportunista, logo se passaram para outra bandeira, mais eficiente e mais perigosa e monstruosa, porque disfarçada, insidiosa e até mais velhaca, pois em “plena paz”, pelo menos há 30 anos está retardando, enganando e pervertendo a consciência do mundo, de maneira ainda mais irremediável. Todos, todos, porque salvo algum insano ou muito estúpido formalista, nenhuma dessas patologias, ou dessas mediocridades poderia se admitir fora de qualquer rolo compressor vitorioso e óbvio, de nenhuma “voga”, de nenhuma crista da onda, de nenhuma sensação eufórica de maioria e poder. Em todo o caso, vamos dar algum credito, mais uma vez. Tendo, porém, o cuidado, mais garantido, de contar de antemão mais com a raridade que é a “reentré” de atrizes antológicas, como Angela Sallocker (a “Joana D’Arc” do clássico de Ucicky), Kathe Haack (de “Emil und die Detetive”), Elisabeth Bergner (de “Nju” e “Ariadne”) e, sobretudo, de Lil Dagover, a Jane de “O Gabinete do Dr. Caligari” e a apaixonada das três histórias de “Pode o Amor mais que a Morte?” (“Der Muede Tod”) de Fritz Lang.”

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 11/07/7.

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