domingo, 2 de janeiro de 2011

CINE METRO

“Quase sem prévio aviso, quase sem margem para as gratas expectativas dos bons tempos do cinema, inaugurou-se (ou reinaugurou-se) quinta-feira última o atual Cine Metro, agora utilizando os balcões para bipartir-se em duas novas salas. Ao contrario da sensação, do verdadeiro marco na vida da cidade a entrega aos paulistanos do primitivo Metro constituiu a 15 de março de 1938, agora, não foi com a perspectiva de próximas aparições de Garbo, Crawford, Shearer, Loy, Rainer, Rosalind Russell ou Jeanette MacDonald, de Laurel e Hardy, dos três Marx, de Gable, Robert Taylor, Mickey Rooney, Robert Montgomery, não foi prometendo novas estrelas como Judy Garland e Vivien Leigh, não foi com o aval de cineastas do porte ou da sensibilidade de Brown, Borzage, Fitzmaurice, John M. Stahl, Z. Leonard. Não foi sequer na sala menor, com um esperadíssimo novo festival Greta Garbo, nem, também, com algumas “reprise” fora-de-série, como seriam as de “Greed”, “Aleluia”, “Fúria”, ou “O Pirata”. Contudo a velha sala – remodelada que foi – agora só poderá estar melhor do que aquilo a que começaram a reduzi-la desde meados de 1953, quando o fatídico embuste da “tela panorâmica” começou a deformar e deteriorar a sugestiva construção moderna de 38, com seus toques egípcios ou assírios e com aquele pano de boca, algo à Opera de Paris, que, excepção feita ao do também destruído insubstituido Cine Rosário, era quase o único aqui em São Paulo que com seus reposteiros de materiais graves e nobres predispunham à hoje mais do que nunca necessária reverencia pelo provavelmente sagrado, digno ou reconfortante espetáculo a que o público se candidatava. Enfim, sinais dos tempos, mesmo porque, tanto o antigo Cine Metro como a outrora respeitável MGM, verdadeiramente já não existam mais.”

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 04/04/76.

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