segunda-feira, 1 de junho de 2009

O SEMINARISTA


“Uma surpresa. De certo modo o único filme “não torto”, o filme de emoções e proposições mais diretas e mais normais apresentado no último festival de Gramado. Uma revelação vinda de Geraldo Santos Pereira, que anteriormente com seu irmão Renato havia realizado “Rebelião em Vila Rica”, “Grande Sertão – Veredas” e “A Balada dos Infiéis”. A história deriva de uma obra romântica de Bernardo Guimarães (um Bernardo Guimarães longe, felizmente, dos desvios e exageros de “A Escrava Isaura”) e deu em resultado um filme que exceto algumas pouco graves assimetrias formais, uma abrupta, questionável e mal equacionada, ainda que intensa e bonita sequencia de amor físico no pré-final, tem belíssimos momentos de inspiração: a chuva que, separando materialmente, aproxima em sentimento os dois amantes, a caminhada de Louise Cardoso até a cerca carregando o cesto de roupas, a maravilhosa imagem da cabana sob a tempestade noturna com a palmeira fustigada pelo vento. Este nosso “O Seminarista” de certo modo lembra “Torgus” o estranho e impressivo filme alemão que Hans Kobe dirigiu em 1922. E o drama religioso, vindo do romantismo de Guimarães, na época atual adquire um tom de registro das restrições de um tempo, muito válido para tempos posteriores e para outros cerceamentos e imposições. No elenco, revelações com Eduardo Machado (que lembra o Paulo José do início em “O Padre e a Moça”) e com Louise Cardoso (que lembra também algo da Eliane Lage de “Caiçara”), uma caracterização fidelíssima ao espírito do tempo com Nildo Parente e um ou dois lampejos da maior essencialidade com o excepcional Xandó Batista de “O Predileto”. Um filme brasileiro reconfortante e obrigatório.”


Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 15/05/77.

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