segunda-feira, 1 de junho de 2009

A MARCA DA PANTERA (“Cat People”)


“O pobre Val Lewton jamais poderia imaginar que, 40 anos depois, seria refilmado seu maravilhoso “Sangue de Pantera”, o filme de duração (73 minutos), orçamento, elenco, ficha técnica e apoio-B, com que ele iniciou sua hoje antológica série terrorífica de 11 obras-primas nos estúdios da RKO, de 1942 a 45 (o citado, mais “A Morta Viva”, “O Homem Leopardo”, “A Sétima Vítima”, “O Fantasma dos Mares”, “A Maldição do Sangue de Pantera”, “A Ilha dos Mortos”, “O Túmulo Vazio”, “Asilo Sinistro”, além de “Mademoiselle Fifi” e “Youth Runs Wild”). A série, praticamente descoberta pela crítica brasileira, que a princípio apressou-se atribuí-la ao diretor Jacques Tourneur, só porque isso lisonjeava seu anti-americanismo e sua francofilia, e o singular produtor, logo em meados de 43, a princípio “suspeitado” e imediatamente após (44) o denominador comum evidente com “A Maldição do...”, decididamente localizado por este crítico, seriam posteriormente (48/50), época de sua programação por nós feita no “Clube de Cinema de São Paulo”, que depois resultaria na “Cinemateca Brasileira” ridicularizados e atacados por outros críticos e facção dominante no “Clube”, então fanáticos só pela “europeice” e pelo “neo-realismo” (como será facílimo comprovar consultando os jornais da época), só há uns sete anos, com o livro que o estudioso americano Joe Siegel publicou na Inglaterra, é que viriam a ser mundialmente reconhecidos e definitivamente consagrados. “Sangue de Pantera” agora vem em Technicolor, 118 minutos, equipe extensa e dispendiosa (como atualmente é moda, dumping ou chantagem) e sob a direção do calvinista Paul Schrader (muito longe do humanismo e laicidade cultos de Lewton). Muito modificado, também, e trazendo Nastassia Kinski no papel que foi da então injustiçada Simone Simon e Malcolm McDowell transformando o médico ateu e conquistador de Tom Conway num irmão licantrópico e incestuoso. Vejamos, mesmo porque, como diz a nem sempre sábia sabedoria popular, não há como um dia depois de outro.”


Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 05/12/82.

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