segunda-feira, 28 de maio de 2007

P.S. POST SCRIPTUM

"Às surpresas de "O Olho Mágico do Amor", "Duas Estranhas Mulheres", "Retrato Falado de uma Mulher sem Pudor" vem juntar-se esta outra, mais inesperada ainda, deste filme paulista que, para espanto geral, foi selecionado pelo vicioso júri do Festival de Gramado do ano passado. Mais surpreendente ainda é que, depois de conhecer-se sua qualidade, não tenha ele sido premiado numa competição da qual participavam, senão "Eu Te Amo" (cavalo de batalha, "dumping" prévio, mas obra cuidada e "comunicativa") outros como o "umbigo" de "Cabaré Mineiro" e os "engagements" "O Homem que Virou Suco" e "Até a Última Gota". Este "P.S.", uma história intencionalmente fragmentada e passada num torvo mundo de publicidade, prostituição de luxo, taras, sonhos, frustrações e culpas de todo o tipo, mas narrada com uma firmeza gramatical até inusitada para o cortês e bem intencionado Romain Lesage, o mesmo de "A Beleza do Diabo", feito em 51 com uma estreante Beatriz Toledo Segall, e do "infantil" "Pluft, o Fantasminha", de 62. Lesage: um longo estágio na publicidade e agora esta obra diferente, estranha, com excelente ambientação, fotografia, roupagens e um momento final de antologia numa imobilização de imagem que parece saída de uma hipotética e cruel fita alemã. Auspicioso e (coincidência?), o terceiro e insuspeitado grande filme paulista consecutivo de que participa, de alguma maneira, o antigo diretor de dublagem Hélio Porto."

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 30/05/82.

Nenhum comentário: