quarta-feira, 15 de julho de 2009

CORAÇÃO DE CRISTAL ("Herz aus Glas")


"Depois de tantos filmes realmente políticos, humana e artisticamente empenhados Werner Herzog não precisa provar talento nem sua sinceridade de engajamento. Mas a crítica internacional e mais a nacional, viciadas como estão nesse tipo de máfia para o sossego e a garantia de acesso a honrarias e bem remunerados postos de comando (acrescidos ao vezo de querer sempre participar das cristas da onda, dos blocos do poder e do consenso comum e de ser a celebrada "maioria compacta", enfim) parece que andou lhe cobrando essa prova inútil e até ridícula a propósito desta fita, na qual ele, inspirado no folclore e nas legendas bávaras, faz uma espécie de arqueologia e ao mesmo tempo premonição ou avaliação de um apocalipse que, pelo visto, está próximo. No mínimo, o apocalipse da ética e da cultura que a humanidade criou ou acumulou desde que começou a raciocinar. Claro, o assunto não é para o eterno otimismo festivo, mas preferimos acreditar no cineasta de "Aguirre, a Cólera dos Deuses" e "O Enigma de Kaspar Hauser" e procurar as relações que esta sua fita poderá ter com o grande romantismo alemão e com o mergulho na poesia elemental que lembramos do realmente excepcional "Das Blaue Licht" ("A Luz Azul"), o famoso e aqui comercialmente inédito "filme de montanha" que Leni Riefenstahl dirigiu em 1932. A ver urgentemente e sem os famigerados "parti-pris"."

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 22/04/79.

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