quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

GLÓRIA FEITA DE SANGUE ("Paths of Glory")

"O melhor filme de Stanley Kubrick. Muitos pontos acima da demagogia formal e da amargura-realista de cálculo de suas primeiras obras no experimentalismo do cinema independente (o aqui inédito “Fear and Desire”), na “classe-B” (“A Morte Passou por Perto”) ou na categoria intermediária (“O Grande Golpe”). Bem longe, felizmente, malogro clamoroso de “Lolita”. E afastado, ainda, da “inocência útil” do “Dr. Fantástico”, da inútil pompa técnico-artística e dos esbanjamentos de produção de “2001, Uma Odisséia no Espaço” ou ainda, do premonitório-exibicionista e sensacionalista de “A Laranja Mecânica” (aqui contraproducentemente vedado pela nossa censura). Um filme sobre uma misereanda farsa de guerra, passada ao tempo da I Mundial, na França, quando três soldados inocentes são sorteados ao acaso para morrer por fuzilamento e assim servir de “cortina de fumaça” para um erro ou um malogro qualquer na frente de batalha. Humana e realmente profunda e tocante, a fita nem parece de Kubrick, para sermos francos. Aqui originalmente lançada no circuito Marabá, em meados de outubro de 1958, “Paths of Glory”, ao que lembramos e juntamente com “Tempo de Guerra” (“Les Carabiniers”), de Godard, com “Sansão”, do polonês Wajda e com “Tri”, do iugoslavo Aleksandar Petrovic, constitui um dos raros apanhados realmente válidos sobre a guerra neste criminoso após-guerra, onde tanto e tanto, principalmente no cinema, se falou e se mistificou sobre o assunto."


Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 15/08/76.

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