quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

AQUI TERMINA O INFERNO ("Inochi Bonifuro")

"Um misto de Gorki, Dostoievski e, talvez, Lafcadio Hearn. Uma aproximação com o redimido Kurosawa de “Ralé”, “Dodeskaden”, e “Hakuchi, o Idiota” (este já exibido pelo “Cinema Um” no Rio, mas ainda absurdamente inédito em São Paulo). Um filme de Masaki Kobayashi um dos mais “engajados” e, por isso mesmo, mais celebrados diretores do Japão, muitas vezes dado ao virtuosismo gratuito e ao proselitismo descabido (“Herança Fatídica”, “O Rio Kuroi”, “Harakiri”, “Rebelião”), mas às vezes também um humanista convincente (como nas seis épocas da primeira versão, a de 1959/61, de “Guerra e Humanidade”) ou um encenador do insólito e do caprichado, como em “Kwaidan” (“As Quatro Faces do Medo”), este por sinal derivado de contos do polonês que se tornou japonês: Hearn. Aqui a narrativa provém de um original de Shugoro Yamamoto, o mesmo autor de “Dodeskaden”. O roteiro foi escrito pela esposa do ator Nakadai, o que talvez não seja um bem. Mas a profunda humanidade de Yamamoto deve ter vencido os óbices. A fita num dos festivais de Taormina deu a Kobayashi o prêmio de melhor diretor e há dois anos foi saudada com o maior entusiasmo pela crítica argentina. A história se passa numa torva caverna da velha Edo (a antiga Tóquio), “ponto” de contrabandistas, negociantes inescrupulosos, assassinos, matricidas, meretrizes, monges depravados e apostatas, policiais corruptos, nobres decadentes, toda a escória humana. No elenco, o catatônico Nakadai é o protagonista. Mas há compensações como, por exemplo, a beleza e sensibilidade de Komaki Kurihara ou o nível do grande ator de “Kabuki” Kanemon Nakamura. Um filme japonês a ser visto, o que infelizmente já se tornou raridade neste nosso cada vez pior mercado exibidor. A ele, pois."


Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 22/08/76.



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