domingo, 10 de agosto de 2008

DERSU UZALA

“Justamente quando deixou de fazer apelações a um sarcasmo e a “utilidades” convenientes à “festiva” (não bem o que anda confessando Yves Montand), pendendo, como era natural e inevitável, para um humanismo bem à Gorki, à peculiaridades legítimas e anímicas de uma silenciosa vivência oriental, Kurosawa caiu em desgraça e isso não deve ter sido só conseqüência do menor êxito comercial do inesperado “Dodes’kaden”. Como soe ocorrer, o isolamento foi tão cruel, a decepção e o estupor foram tão fortes que o cineasta até chegou à tentativa de suicídio. A possibilidade de recuperação veio com esta fita, que os estúdios soviéticos aceitaram co-produzir e que, no dizer da maioria, surge envolta em uma profunda beleza graças ao retrato que faz de um homem solitário e solidário a solidão que ele pressente no mundo. De certo modo, o drama real da existência do guia asiático “Dersu Uzala” tem muitos pontos de contactos com o de outra personagem antológica do cinema japonês, o pescador e vigia de Hokkaido que passou toda sua vida num farol do norte gelado de seu país – papel do grande Hisaya Morishige em “O Homem do Horizonte” o filme também clássico de Seiji Hisamatsu. “Dersu Uzala”, personagem russo que realmente existiu, levado à tela ganhou o “Oscar” de melhor filme de 1976 e agora dará, talvez, novo alento à carreira do cineasta de “Ralé”, “Viver”, “Rashomon” e tantas obras elogiadas e premiadas internacionalmente. A ver, sem dúvida alguma.”

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 02/10/77.


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