domingo, 3 de fevereiro de 2008

OS VAGABUNDOS TRAPALHÕES *

"Renato Aragão, porém, não receia a concorrência da Copa. Para ele, a atual maior bilheteria popular e familiar do cinema brasileiro, basta aproximar-se o período de férias e está ótimo. Ele produz mesmo seus dois filmes anuais para a ocasião e não precisa mais nada. O diabo é que, embora tenha tido o acerto de voltar a mobilizar o talento do iugoslavo J. B. Tanko (o maior e mais competente artesão de nosso cinema e quase um mago na manipulação da imagem e do ritmo, da condução geral), Aragão está não só com êxito subindo à cabeça, como também se deixando influenciar por certas falácias, imposições e lugares-comuns politicóides do meio: agora quase que se desculpa dos Ladrões de Bagdá, Cinderelos, Robin Hoods e Ali Babás de que se andou utilizando e invoca sua infância e criação no Ceará, em meio à miséria. Não precisa. Ninguém vai duvidar que ele não seja produto local. Mas podemos temer que esteja calculando demais e se deixando levar por outras miragens, sobretudo a do êxito fácil. Mesmo porque, reportando-se a outros personagens que já interpretou, a este filme não é estranha a influência de um fenômeno e um êxito que não é só de casa – a infância desvalida e massacrada tipo “Pixote”. No elenco, causa espécie a presença de uma atriz de outro escalão como Denise Dumont no segundo papel feminino."

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 20/06/82.

* Este filme será exibido no Canal Brasil, dia 22/02, às 07:00hs.







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