segunda-feira, 3 de setembro de 2007

KARINA, OBJETO DE PRAZER *

"Possivelmente um Jean Garrett cinematicamente efetivo – isto é, naquele gosto, procura de significação e domínio visual de certos momentos de “A Ilha do Desejo” (principalmente o das sevicias que praticava o chinês sádico e gigantesco), “Excitação” (a suave beleza fotográfica), “A Força dos Sentidos” (o tom de sobrenatural que ia envolvendo a festinha na casa de praia) e “A Mulher que inventou o Amor” (todo o cuidado para mostrar a transformação de Aldine Muller de moça suburbana a objeto de trato). Na história, porém – sempre o ponto menos evoluído e mais popularesco dos filmes da rua do Triunfo – o lugar comum ou a ingenuidade sensacionalista de sempre. Aqui, utilizando o condimento “machista” (filha de pescador, comprada por marginal de beira do cais que a usa até como objeto de empréstimo) ou a momentosidade tipo liberação-feminina (a brutalidade lúbrica dos dois homens leva as duas heroínas ao homicidio e ao lesbianismo). Um dos vilões é o veterano e sempre dominante Luigi Picchi. Mas, a julgar pelas fotos em branco e preto dos stands, é o capricho visual com que Garrett tratou Angelina Muniz que deverá constituir a nota do filme.”

Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 12/09/82.

* Este filme será exibido no Canal Brasil, no dia 12, à meia-noite.

6 comentários:

Anônimo disse...

Oi Serjão. Muito boas as críticas do mestre, a do filme do Alfredo é antológica. Do Jean, é legal também, e como ele também não sou grande fã do longa. Mas pra ser sincero não entendi muito bem esse lance que ele fala na crítica do filme do Mozael. Creio, que ele se refere ao sistema de cotas da Embrafilme, inclusive criticando o sistema de mandar grana pra algumas pessoas e outras não. Será que quando ele critica quem faz filmes sobre índios, será que ele se refere a "Iracema- Uma Transa Amazônica" do Orlando Senna e Bodansky ??

Anônimo disse...

Fala, Matheus! Queria ter visto o filme do Garrett, mas acabei dormindo miseravelmente rss. Só vi os 10 min. finais, o que me deu muita vontade de ver o filme completo.
Já o do Alfredinho eu assisti, e é muito ruim :(

Quanto a crítica do "Seu Florindo...", como sempre o Biáfora é de uma finíssima ironia! Claro, ele está criticando a política de distribuição de verbas da Embrafilme, que sempre ia pro pessoal que fazia parte da "panelinha". Creio que ele quer dizer que nem grandes Mestres internacionais, como Lang e Sucksdorff, que na época morava no Brasil, se quisessem realizar um filme aqui não conseguiriam furar o bloqueio e receber verbas oficiais.

Mas se você quiser saber, ele não gostava do "Iracema...", não!
Abraço.

Andrea Ormond disse...

Sergio, pelo menos vc pegou a melhor parte! O final é transgressor, sensacional, as duas ficando juntas e a Rosina Malbouisson lendo a defesa do processo de homicídio. Apreciando o texto, fiquei curiosa se o Biáfora escreveu sobre "Noite em Chamas", aquela tentaiva de cinema-catastrofe do Garret, muito interessante :) Beijos!

PS - O Fritz Lang tb morou um tempo aqui no Brasil nos anos 70. Pertinho dos meus pais, aliás.

Anônimo disse...

Andréa, fiquei chapado com aquele final! Aquela é a Rosina Malbouisson? Muito linda ela.
Não lembro se o Biáfora escreveu sobre "Noite em Chamas", mas é provável. Vou dar uma procurada. Sabe o ano de lançamento?

E o Fritz Lang morou no Brasil? Essa eu não sabia. Seus pais chegaram a conhecer ele?
Beijos!

Andrea Ormond disse...

Sergio, foi lançado em Setembro de 1978 em São Paulo. Com certeza o Biafora escreveu sobre ele alguma tirada ótima. Meu pai contou que via sempre o Fritz Lang pelas ruas de Copacabana com o José Lino Grunewald :)

Anônimo disse...

Andréa, você é MA-RA-VI-LH0-SA :)
Descobriu não apenas o ano mas também o mês do lançamento! Facilitou sobremaneira meu trabalho.
A resenha foi publicada em 17/09, e nesse dia coube ao Motta fazer as "Indicações da Semana".
Eis o que ele escreveu sobre "Noite em Chamas":

"O cinema paulista se curva diante das exigências da superprodução. E Jean Garret que de certa forma é um "angry" e tende para os assuntos com ingredientes escabrosos, utiliza aqui um esquema que vem do "Grande Hotel". E naturalmente de "O Inferno na Torre" e sua imitação americana mesmo, "Fogo na Torre", exibida no Marrocos em 76. Um aglomerado de personagens, de empregados a hóspedes de um hotel do centro. Entre os quais uma dama solitária (Lola Brah) que transfere toda a sua potencialidade afetiva a um cachorrinho. E um coronel do interior interpretado por Guilherme Côrrea, ao que parece o melhor do elenco embora esteja mais de acordo com as intenções do realizador. O esforço de produção inclui carros se incendiando, corpos despencando etc."

Quanto ao Lang no Brasil, essa história precisa ser contada. Quem se habilita?

Beijos, querida :)