domingo, 2 de dezembro de 2007

A GUERRA DAS VALSAS (“Walzerkrieg”)

"Com o advento do som e durante toda a década de trinta, o gênero “opereta” encontrou sua expressão peculiar e insuperada no cinema alemão. Otimismo, paroxismo de movimento e alegria, procura do maior descompromisso (as cicatrizes da última guerra e os fantasmas da depressão nos EUA eram sensações por demais insuportáveis e que precisavam ser esquecidas ou ignoradas). Mas nem por isso todo aquele movimento em salões imperiais e alegres estalagens de histórias de cinderelas e príncipes encantados (ou vice-versa), de polimento europeu, de “savoir vivre” implicavam numa ausência de denso delineamento humano, de voraz e sensorialíssima maneira de enxergar homens e mulheres e suas paixões, seus méritos, seus sentimentos, e até suas mesquinharias. Mas sempre seus sonhos...realizados. Este filme, aqui originalmente lançado na Sala Vermelha do Odeon, a 30 de abril de 1934 (em versão francesa com Fernand Gravey e Janine Crispin) foi um dos mais comentados. Na história, a Rainha Vitória, sabendo da fama musical da Viena envia o diretor do “Real Ballet” de Londres a fim de escolher um músico para a corte inglesa. Isso provoca verdadeira competição, quase uma guerra musical entre Johann Strauss e Joseph Lanner, os dois expoentes do gênero na terra de Sissi. O diretor Ludwig Berger, um dos antológicos do cinema alemão dos anos 20 (também dirigiu um terço da versão inglesa de “O Ladrão de Bagdad”, a de 1940 com Conrad Veidt e Sabu e a melhor de todas) e era um elemento dos mais capazes. Examinando-se ficha técnica e elenco, quase que só encontramos elementos que já então eram ou depois iriam se tornar antologia, com grandes atuações em seu ativo: o Berger, os maravilhosos cenógrafos Rohrig & Herlth, intérpretes como a malograda Renate Muller, Adolf Wohlbruck, Paul Horbiger, Karel Stepanek, Hanna Waag e, mesmo, o galã Willy Fritsch, mais o roteirista Rob Liebmann de “O Anjo Azul”, o lendário iluminador Hoffman. Oportunidade rara de respirar outro ar, mais limpo e estimulante, e, ao mesmo tempo, apreciar cinema realizado com todos os requintes de uma época em que ainda se admirava o cultivo e o bom gosto."

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo de 25/05/80.


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