segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O ENIGMA DE KASPAR HAUSER ("Jeder für sich und Gott gegen alle")

"Um dos mais celebrados filmes de nosso tempo. E, com toda a probabilidade com inteira justiça, pois devida ao mesmo diretor e autor de outro dos poucos filmes real, essencial e artisticamente políticos surgidos nesses mesmos e tão mistificados período e gênero: o aqui ainda comercialmente inédito “Aguirre, a Ira de Deus”, que aliás logo mais também nos será apresentado pela mesma importadora. O que há a lamentar que as cópias vindas e liberadas para nós sejam as dubladas em inglês e não as originais, fazendo-nos perder (no caso) toda a propriedade, toda a verdade, a força e a beleza da língua alemã. A história é simples e verídica: um fato misterioso ocorrido no século passado (1828) quando um rapaz de 16 anos surge mudo, idiotizado, imundo, sozinho e perdido nas ruas de Nurenberg, sem nunca ter tido contacto com qualquer ser humano. Recolhido, questionado (seria um príncipe raptado, seria o filho de Napoleão, seria um impostor ou um débil mental?) e educado ele adquire uma noção do que é o homem e o mundo, a “linguagem” e a “inteligência” dos homens, mas cinco anos depois é assassinado sem que o enigma possa ter tido solução. História simples, encontradiça ao longo dos tempos, mas terrível e com a qual, na tradição permanente e terrivelmente transcendente do cinema alemão de desde “A Casa sem Portas nem Janelas”, de desde “O Gabinete do Doutor Caligari” (que está para voltar em circuito comercial) Werner Herzog consegue um impacto talvez maior que “Aguirre”, para escarmento do em média medíocre cinema que se faz hoje em quase toda a parte. Mais do que obrigatório. Impossível de ser perdido.”

Publicado originalmente no “O Estado de S. Paulo” de 13/11/77.

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