quinta-feira, 14 de junho de 2007

A NUDEZ DE ALEXANDRA ("UN ANIMAL DOUE DE DERAISON")


"Com "As Quatro Estações do Amor", "Natercia" e "Le Bel Age", Pierre Kast demonstrou que tinha condições para ser aquilo que todos os francófilos do cinema - aguerrida legião nos anos de antes, durante e logo após a última guerra - viviam apregoando adorar e deveriam ter realmente adorado (embora não tenha sido isso o que aconteceu). Ou seja, Kast nesses filmes, conquanto não deixando de evidenciar influência de Lubitsch e de Antonioni, revelava-se o mais essencialmente e o mais não-emocionalmente francês de todos os diretores franceses. Ele entretanto, parece ignorar essa sua faculdade e via de regra comporta-se como se quizesse emular Tom Payne e Marcel Camus. Aqui trata uma história que se passa no Rio e envolve e mistura dois planos, duas épocas: a atual, a tipo "Copacabana-Leblon-Ipanema" e outra onde se situam figuras e ambientes do Brasil-colônia. O personagem central é um empresário francês (Jean-Claude Brialy), às voltas com as suas concepções de um Brasil entre Chico Buarque de Holanda, a praia, o Canecão, as "elegâncias" da Avenida Nossa Senhora de Copacabana e o tropical, idilico, semidesabitado e jamais poluído paraíso das gravuras de Debret. Aliás, já nas fotos enviadas para publicidade é possível ver o que o talento e o bom gosto, a visão pessoal de Kast conseguiram, transformando em águas-fortes e em bicos-de-pena até mesmo os esteriótipos deficitários de Jece Valadão e Hugo Carvana. Claro que Alexandra Stewart não depende do intelecto e do pulso de Kast. Mas aqui está um filme a verificar e que tem ainda uma outra boa coisa: não foram feitas as infamantes e impossíveis dublagens - os atores brasileiros falam português e os da França, francês, e as legendas providenciam a tradução conforme a fita se exiba lá ou aqui. Até que enfim uma lição começou a servir!"

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 13/02/77.

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