terça-feira, 1 de julho de 2008

O HOMEM DE FERRO ("Czlowiek z Zelaza")


“Wajda já teve seus pecados. O celebrado “Cinzas e Diamantes” (“Popiol I Diament”), que revelou o simples, cordial, inteligente e simpaticíssimo (em pessoa) mas muito “Actor’s Studio” (em cena) Zbigniev Cybulski, em verdade era muito obra para aquele vagamente sonhador tipo de stalinismo que hoje (só hoje?) cobra um preço feroz da humanidade e faz o mundo passar um século de verdadeira regressão e essencial tortura. É fato que, depois, em 1961, com “Sansão, a Força contra o Ódio”, a melhor fita que o cinema produziu até hoje sobre o sofrimento judeu, Wajda já se redimiria das ilusões de seu virtuosístico e superestimado filme de 1958. Mas nesta fase que começa em 74 ou 73, com os aqui já vistos “A Terra Prometida” e “O Homem de Mármore”, o cinema deste realizador torna-se menos de regozijo ingênuo e mais premonitório, mais antecipador, mais sensível à situação insuportável que a balela soviética criaria para a sua heróica terra e seu indomável povo. Em agosto de 1980, um venal é enviado aos estaleiros de Gdansk para recolher “material informativo” que permita desacreditar os líderes da greve que está sendo levada a efeito. A fita por pouco não poderia ser exibida entre nós. É que sua cópia chegou antes que o governo títere e Quisling de Jaruzelski mandasse interditar sua exportação. Nela, numa seqüência, como padrinho de um casamento, aparecem o próprio Lech Walesa e a lutadora Anna Walentynowicz. E constitui, como é natural, não uma quase certa promessa de bom cinema, mas também uma atração indiscutível, um dos grandes eventos da temporada. Obrigatória.”

Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 04/04/82.

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