
Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 27/06/76.
Críticas de Rubem Biáfora, selecionadas por Sergio Andrade
Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 03/10/76.
“Um elogio à empresa Serrador. Esta semana tirou do ineditismo esse caprichado e inquietante “Revólver de Brinquedo”, de há muito reclamado por esta seção. E amanhã lança este filme que, registrado a 4 de dezembro de 75 pelo INC (depois Concine) e depois de participar do festival de Gramado de 76, em junho daquele ano foi lançado no Rio e até agora estava comercialmente encalhado
"O famosíssimo filme do ex-fotógrafo, elemento de televisão e cinema publicitário que lançou ou mais contribuiu para firmar a voga erótica, ou simplesmente pornográfica, no cinema atual (os experimentos de Mekas, Andy Warhol, etc., ficaram no experimentalismo e nas “caves” ou auditórios limitados ou “especializados”). E o filme que lançou a holandesa Sylvia Kristel no estrelato internacional. Na história, derivada de livro de autora que se mantém no mistério ou incógnita, Sylvia é a esposa de um diplomata que lhe concede direitos iguais em matéria de liberdade extra-conjugal. E ela, chegando à Tailândia, vê-se totalmente “envolvida” por essa liberdade. Em todos os pontos de vista. A fita motivou mais duas continuações e uma infinidade de imitações e até apropriações indébitas de personagem (ou melhor, de só seu nome) mas esta é realmente a original, a verdadeira. Só esperamos que seja melhor do que o que já conhecemos do referido e discutível “surto”, talvez até esperando mesmo que esteja para o gênero como “Quem é Polly Magoo?” “Qui Etes Vous Polly Magoo?”, do americano William Klein, esteve para a sofisticação e insólito em matéria de filme sobre manequins, publicidade e Moda. Será esperar muito? E o estado das cópias?”
Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 11/05/80.“Wajda já teve seus pecados. O celebrado “Cinzas e Diamantes” (“Popiol I Diament”), que revelou o simples, cordial, inteligente e simpaticíssimo (em pessoa) mas muito “Actor’s Studio” (em cena) Zbigniev Cybulski, em verdade era muito obra para aquele vagamente sonhador tipo de stalinismo que hoje (só hoje?) cobra um preço feroz da humanidade e faz o mundo passar um século de verdadeira regressão e essencial tortura. É fato que, depois, em 1961, com “Sansão, a Força contra o Ódio”, a melhor fita que o cinema produziu até hoje sobre o sofrimento judeu, Wajda já se redimiria das ilusões de seu virtuosístico e superestimado filme de 1958. Mas nesta fase que começa em 74 ou 73, com os aqui já vistos “A Terra Prometida” e “O Homem de Mármore”, o cinema deste realizador torna-se menos de regozijo ingênuo e mais premonitório, mais antecipador, mais sensível à situação insuportável que a balela soviética criaria para a sua heróica terra e seu indomável povo. Em agosto de 1980, um venal é enviado aos estaleiros de Gdansk para recolher “material informativo” que permita desacreditar os líderes da greve que está sendo levada a efeito. A fita por pouco não poderia ser exibida entre nós. É que sua cópia chegou antes que o governo títere e Quisling de Jaruzelski mandasse interditar sua exportação. Nela, numa seqüência, como padrinho de um casamento, aparecem o próprio Lech Walesa e a lutadora Anna Walentynowicz. E constitui, como é natural, não uma quase certa promessa de bom cinema, mas também uma atração indiscutível, um dos grandes eventos da temporada. Obrigatória.”
Publicado originalmente no "O Estado de S. Paulo" de 04/04/82.